Torcicolo Congênito em Bebês: O Que É, Como Identificar e Quando Tratar
- Guilherme Amorim Ubiali
- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Por Dra. Maristela Brandieri – Fisioterapeuta Osteopata, Mestre em Terapia Manual

O torcicolo congênito é uma condição relativamente comum na infância, mas muitas vezes subdiagnosticada ou confundida com simples preferências posturais do bebê. Ele se caracteriza por uma postura anormal da cabeça e do pescoço, em que o bebê mantém a cabeça inclinada para um lado e o queixo voltado para o lado oposto. Essa rotação anormal geralmente está associada a alterações no músculo esternocleidomastoideo (ECOM), localizado na lateral do pescoço, responsável por grande parte da mobilidade cervical.
As causas do torcicolo congênito são variadas. Em muitos casos, o problema se origina ainda na gestação, devido à posição intrauterina restrita, especialmente em gestações múltiplas ou com pouco líquido amniótico. Também pode estar relacionado a traumas durante o parto, como o uso de fórceps ou partos prolongados, ou ainda à macrossomia fetal, quando o bebê nasce com um peso acima do esperado para a idade gestacional. Essas situações podem provocar um encurtamento ou fibrose do músculo ECOM, levando a rigidez, limitação de movimento e até ao aparecimento de uma pequena massa palpável, conhecida como tortisoma.
A identificação precoce é essencial para evitar complicações. O torcicolo pode ser observado já nas primeiras semanas de vida, quando o bebê demonstra preferência por manter a cabeça sempre voltada para o mesmo lado ou apresenta dificuldade para amamentar em uma das mamas. Com o tempo, se não tratado, essa postura assimétrica pode levar ao achatamento de uma parte do crânio (plagiocefalia), à assimetria facial e até a alterações no desenvolvimento motor global. Estudos recentes apontam que o tratamento iniciado até os três meses de idade tem mais de 90% de chance de sucesso com medidas conservadoras, enquanto intervenções tardias, após os seis meses, tendem a exigir tempo prolongado de terapia e, em casos mais graves, até abordagem cirúrgica (Kaplan et al., 2018).
O tratamento do torcicolo congênito é, na maioria das vezes, conservador e altamente eficaz. A fisioterapia especializada exerce um papel fundamental, com manobras suaves de alongamento e exercícios que favorecem o ganho de mobilidade e o reequilíbrio muscular. A osteopatia pediátrica atua de forma complementar, utilizando técnicas manuais delicadas e específicas para liberar tensões miofasciais, corrigir desalinhamentos e restaurar a função muscular e articular. A atuação precoce evita não apenas o agravamento do quadro, mas também o desenvolvimento de compensações posturais, como escolioses e assimetrias corporais mais amplas.
Hoje, contamos também com tecnologias avançadas para o diagnóstico e acompanhamento de comorbidades associadas, como a assimetria craniana. O uso do escaneamento 3D — como o realizado com o EinScan H2 — permite a avaliação precisa e segura do crânio do bebê, sem radiação ou contato físico. Essa análise milimétrica facilita a tomada de decisão e o monitoramento da evolução do tratamento, especialmente em casos onde há necessidade de órtese craniana corretiva.
É importante ressaltar que o torcicolo congênito não se resolve apenas com o tempo. Embora alguns casos leves possam apresentar melhora espontânea, a maioria exige intervenção profissional para garantir a recuperação completa e evitar prejuízos no desenvolvimento da criança. A American Physical Therapy Association publicou em 2024 uma diretriz clínica baseada em evidências que reforça esse ponto: quanto mais precoce a abordagem, melhores os resultados e menor o risco de sequelas (Sargent et al., 2024).
Em resumo, o torcicolo congênito é uma condição tratável, desde que identificada e acompanhada corretamente. O olhar atento dos pais, combinado com uma avaliação profissional nos primeiros meses de vida, pode fazer toda a diferença no desenvolvimento postural e neuromotor do bebê. Ao notar qualquer inclinação persistente da cabeça, dificuldade em virar o pescoço ou sinais de desconforto ao movimentar-se, é fundamental buscar ajuda de um fisioterapeuta ou osteopata especializado em pediatria. Com cuidado, atenção e o tratamento adequado, é possível garantir à criança um crescimento equilibrado e saudável.
Dra. Maristela Brandieri - Fisioterapeuta Osteopata – CREFITO 156255-F - Mestre em Terapia Manual (Universidad Europea de Madrid) - Especialista em Osteopatia Pediátrica e Desenvolvimento Infantil
Referências
Sargent, B. et al. (2024). Physical Therapy Management of Congenital Muscular Torticollis: A Clinical Practice Guideline. American Physical Therapy Association, Academy of Pediatric Physical Therapy.Kaplan, S. L., Coulter, C., Fetters, L. (2018).
Physical Therapy Management of Congenital Muscular Torticollis: An Evidence-Based Update. Physical & Occupational Therapy in Pediatrics, 38(4), 436–449.




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