Assimetria Craniana em Bebês: Entender para Tratar Precocemente
- Guilherme Amorim Ubiali
- 17 de jul.
- 4 min de leitura
Por Dra. Maristela Brandieri – Fisioterapeuta Osteopata, Mestre em Terapia Manual

A cabeça do bebê, ao nascer, é naturalmente moldável. Isso é parte da adaptação fisiológica necessária para o parto e também um reflexo da imaturidade das suturas cranianas, que permanecem móveis durante os primeiros anos de vida. No entanto, essa maleabilidade que favorece o desenvolvimento também torna o crânio suscetível a deformidades. Uma das condições mais comuns nos consultórios pediátricos e de fisioterapia especializada é a assimetria craniana — especialmente a plagiocefalia posicional e a braquicefalia.
Durante muito tempo considerada apenas uma questão estética, a assimetria craniana vem sendo cada vez mais reconhecida como um marcador potencial de alterações no desenvolvimento infantil, especialmente nos domínios motor e cognitivo. Estudos como o de Collett et al. (2019), publicado no Pediatrics, apontam uma associação clara entre plagiocefalia e atrasos no desenvolvimento, reforçando a necessidade de abordagem precoce e multidisciplinar (Collett BR et al., 2019. Pediatrics, 144(6):e20183423).
A origem da assimetria pode ser multifatorial. Em muitos casos, está relacionada ao tempo excessivo em uma mesma posição — por exemplo, quando o bebê passa muitas horas deitado de costas em superfícies rígidas. Outra causa comum é o torcicolo muscular congênito, que limita os movimentos cervicais e leva o bebê a manter preferências posturais, moldando o crânio de forma assimétrica (Sargent B et al., 2024. APTA Clinical Guideline). Há ainda fatores intrauterinos, como restrições de espaço no útero, e até predisposições genéticas que contribuem para o quadro.
O diagnóstico clínico, feito por fisioterapeutas, pediatras ou osteopatas especializados, é fundamental — mas o avanço das tecnologias trouxe uma revolução na forma de avaliar essas deformidades. Na nossa prática clínica, utilizamos o Scanner 3D EinScan H2 Handheld Pro, uma das ferramentas mais modernas do mundo para análise do crânio infantil. Trata-se de uma tecnologia de escaneamento tridimensional que permite medir com precisão milimétrica as diferenças de volume, ângulo e proporção da cabeça do bebê. Ao eliminar a subjetividade da avaliação manual, o scanner permite diagnósticos mais confiáveis e o acompanhamento evolutivo do tratamento de forma objetiva e documentada (Peters M et al., 2018. Eur J Orthod 41(1):29–34).
Ao identificar uma assimetria, o tratamento vai depender da idade do bebê, do grau da deformidade e da causa associada. Bebês menores de quatro meses com assimetrias leves geralmente respondem bem a medidas conservadoras, como reposicionamento durante o sono e a vigília, além de terapias manuais como a osteopatia pediátrica. Já nos casos em que há restrições de movimento significativas ou a assimetria se mantém mesmo após tentativas de correção postural, é indicado um plano terapêutico mais estruturado.
A osteopatia pediátrica tem se mostrado uma abordagem altamente eficaz nesses casos. Através de técnicas suaves, seguras e adaptadas ao corpo do bebê, o osteopata atua sobre restrições miofasciais e articulares que podem estar contribuindo para o desalinhamento craniano. A literatura já reconhece seus benefícios tanto na melhora da mobilidade craniana quanto na redução das tensões musculares e prevenção de deformidades secundárias (Wilbrand JF et al., 2017. J Craniofac Surg 28(2):383–390).
Quando a assimetria é classificada como moderada a severa — com diferenças de simetria craniana superiores a 10 mm — e o bebê já se encontra entre 4 e 12 meses de idade, pode-se indicar o uso de órtese craniana, popularmente conhecida como capacete ortopédico. Essa órtese é confeccionada sob medida, a partir do escaneamento 3D, e atua como um guia passivo para o crescimento do crânio, liberando espaço nas áreas achatadas e limitando o crescimento nas regiões proeminentes. O uso geralmente é contínuo, cerca de 23 horas por dia, durante um período que varia de 3 a 6 meses (Kluba S et al., 2014. J Craniofac Surg 25(1):139–143).
É importante esclarecer que a órtese não causa dor nem desconforto ao bebê, sendo rapidamente aceita por ele. Mais importante ainda: quando indicada corretamente e utilizada no momento adequado, os resultados são bastante satisfatórios, com melhora significativa da simetria craniana e, por consequência, da função global do sistema musculoesquelético.
Infelizmente, ainda é comum a ideia de que a assimetria "vai melhorar sozinha com o tempo". Embora em alguns casos leves isso possa ocorrer, estudos de longo prazo mostram que a persistência da deformidade além dos seis meses de vida aumenta o risco de impactos funcionais e estéticos permanentes (Kunz F et al., 2020. Springer J Musculoskelet Neuronal Interact). Por isso, a intervenção precoce é crucial para o sucesso terapêutico.
Ao longo da minha prática clínica, o que observo é que quanto antes os pais buscam orientação, maiores são as chances de resolver o problema de forma simples e eficaz. Além disso, o acompanhamento contínuo com tecnologias como o scanner 3D permite decisões clínicas embasadas e seguras, além de maior tranquilidade para as famílias ao visualizar claramente a evolução do tratamento.
Por fim, é essencial compreender que assimetria craniana não é apenas estética. Trata-se de um indicador importante da saúde musculoesquelética e do desenvolvimento global do bebê. A boa notícia é que, com diagnóstico precoce e abordagem adequada, os resultados são excelentes.
Se você é mãe, pai ou cuidador e percebeu alguma assimetria na cabecinha do seu bebê, procure um profissional capacitado. O olhar atento e o cuidado no tempo certo fazem toda a diferença para o desenvolvimento saudável do seu filho.
Dra. Maristela Brandieri - Fisioterapeuta Osteopata – CREFITO 156255-F - Mestre em Terapia Manual (Universidad Europea de Madrid)Especialista em Osteopatia Pediátrica e Desenvolvimento Infantil
Referências:
Collett, B. R., Wallace, E. R., Kartin, D., et al. (2019). Plagiocephaly and developmental delay: A systematic review. Pediatrics, 144(6), e20183423.
Sargent, B. et al. (2024). Physical Therapy Management of Congenital Muscular Torticollis: A Clinical Practice Guideline. APTA Academy of Pediatric Physical Therapy.
Wilbrand, J. F., Schmidtberg, K., Bierther, U., et al. (2017). Efficacy of helmet therapy in positional plagiocephaly. Journal of Craniofacial Surgery, 28(2), 383–390.
Peters, M., et al. (2018). Cognitive outcomes and positional plagiocephaly. European Journal of Orthodontics, 41(1), 29–34.
Kunz, F., et al. (2020). Manual therapy of infants with postural and movement asymmetries and positional preference. SpringerLink Journal.
Kluba, S., et al. (2014). Helmet therapy in positional plagiocephaly: A prospective study. Journal of Craniofacial Surgery, 25(1), 139–143.




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